sexta-feira, 16 de julho de 2010

Da Ótica das Coisas - Chapter One






--Ei!!Cuidado onde joga isso!Essa merda queima, tu também sabes. E outra que depois fica por ai atirada, é um nojo mesmo, eu to aqui há muito tempo e agora que ta pior, imagina no carnaval.

--É eu to indignada mesmo, tempos atrás a gente podia pegar carona com o vento e ir pra lá e pra cá e conhecer uns lugares, salvar umas arvores de cair no barranco, essas coisas , era bem mais emocionantes.Agora não dá mais pra sair daqui, tem um muro lá e desse outro lado um monte de concreto, e aqueles 3 umbus mais pra lá que seguravam a gente nos dias de vento vocês já cortaram também.Pô, além de passar o dia pisando em cima, ainda ficam jogando coisas e até coisas acesas em qualquer lugar.Sem falar do gosto da água, é sim, eu fico perto da água e eu sei do que eu estou falando, ela tá com outro gosto, e também outras coisas perderam o gosto, quero dizer que agora ta muito monótono viver aqui, desde que começaram a construir e caminhar por aqui. Ah, e tem a estúpida idéia do trator com uns ferros atrás pra emparelhar aqui em cima, olha como estou bronzeada!Droga, e eu passava as tardes conversando com as gaivotas no canto da praia.Nem sei pra onde elas foram, tiveram que viajar as pressas, ir visitar um parente que havia caído num óleo, alguma coisa assim, não sei bem.Perdeu o gosto ver o nascer e o por do sol, quer dizer, não perdeu, mas não é a mesma coisa, tempo atrás, era só a gente e o Sol e o mar, agora não bastassem esses carros, ainda tem um monte de gente pisoteando e circulando e jogando coisas. Não é que me importe que caminhem, mas tem que cuidar pra não construir demais ou ficar passando com o carro, vários aqui já foram nas rodas dos carros e varridos por ai.Acho que deviam colocar tudo no lugar de novo, porque assim é que a gente estava aqui há um tempão e tava tudo certo, não tinha perigo de cair, de ser levado, de se afogar, nem nada, e nem tinha uns imbecis com o som do carro ligado a todo volume em cima da gente as 3 da manhã. Por isso o nascer do Sol ta diferente. Claro que tem dias que tem um luau aqui também, esses eu gosto, porque no fundo esse negocio todo é bonito, só não gosto é de carro, desses que pingam óleo também e dos que abusam do sossego da gente. Olha, tem umas amigas minhas que moram num outro lugar mais ao norte que não passam por isso, “ainda, ainda”, elas dizem, porque parece que venderam lá pra construir um hotel, uns tolos porque dá muito bem pra fazer alguma coisa mais longinho e quem estiver por lá caminha um pouquinho que é bom pra saúde e a gente ate gosta. Gosta quando passam os casais, de mãos, também como irmãos, assim como a gente fica todo dia, próximo, as vezes o vento nos leva aqui ou ali, e sempre estamos perto.Era bacana um tempo atrás, uns anos antes de erguerem o shopping, que as crianças jogavam e corriam a tarde toda, e eu nem me importava com a algazarra porque eu me divertia também, ia com elas pra lá e pra cá, depois eu me despedia ali perto de onde começa a cidade e voltava pra ver o por do Sol.Mas é isso né, vou aproveitar que começou a chover e descer um pouco mais pra perto da água porque hoje é dia de jogo e vem todo mundo pra cá se o Brasil ganhar, vai ser uma festa, tomara que não joguem bitucas e copos plásticos pra todo lado, depois fica tudo espalhado e eu nem consigo dormir com essa sujeira toda.Aliás detesto!!Hunf!Eu detesto ser areia de praia!

Um comentário:

Aimée Souto. disse...

sabe, eu acredito muito que as coisas todas possuem vida.
e acredito mesmo que tudo 'conversa' entre si!
e imagina a raiva que as coisas tem do homem :(
porque a gente faz mal pra tudo, a gente detona tudo. passa destruindo.
é uma pena mesmo que o 'bem-estar' do homem esteja destruindo o que há de mais belo e simples na vida.
adorei a abordagem!

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