quarta-feira, 1 de julho de 2009

...1995..

...e atrás da casa, havia uma colheitadeira Fergusson vermelha e cheia de fungos,a gasolina, e onde se descarregavam os sacos de milho decadas atras, era meu escorregador, e onde saiam os grãos do cereal dourado em tempos remotos, agora saem big macs imaginários...mais além, acabava a parte cercada e vinham os cupinzeiros e os gravatás por onde surgiam perdizes que eu estupidamente tentei caçar com uma espingarda de pressão...


Quando nas tardes de verão, após recolher as ovelhas (sim, nessa epoca tivemos ovelhas, Suffolk), iamos a sanga, proximo da vertente, ficar de molho ate os mosquitos nos expulsarem de lá, e estavamos cagando pra febre amarela e subiamos um morro gigante correndo e gritando, como se tivessemos pulmoes da General Motors...chegavamos resfolegantes e os cavalos certamente achavam que eramos doidos, gastar energia assim, de graça...e rindo...


Já perto do Jeep amarelo, sem rodas e despedaçado em frente ao muro semi construido da casa, sentia-se o cheiro de pão de trigo, e sabiamos que sobre a mesa ja estavam o bule, a xicara e a manteiga...e no pão, no café, na xicara e na manteiga estavam o amor... incondicionalmente o amor de uma mãe que abriu mão de tudo para estar com a familia, num lugar mediocre, sujo e pesado de lamentaçoes como aquele, onde das calhas escorria o visgo da discórdia, onde nas paredes intrinsecamente incrustadas estavam as sementes do ódio...


Nas manhãs ainda de verão, as languidas rajadas do mesmo sol do inverno acordava os sabiás ainda em suas tocas, e a meus olhos chegavam raios de luz amareladas como dentes de fumante, e eu levantava alegre por mais um dia de descobertas.Descia correndo a coxilha escorregando entre touceiras ainda umidas de orvalho, com um balde cheio de raçao para os porcos, Purina.Olá bom dia porcos, tenho o prazer de lhes trazer sua saborosa comida, e aproveitem pois o faço com toda a satisfação e contentamento que podem caber nos meus 11 anos!Os baldes sujos de raçao lavava no açude em frente, onde os lambaris ansiosos me aguardavam e faziam fila para comer os fragmentos que caiam...


Em domingos de calmaria se escutavam os carros na rodovia, o vento na falsa seringueira sacudindo as largas folhas, o cheiro do jasmim manga adocicando o ar em volta do mausoleu mor da Fazenda Taquara, os cachorros atirados embaixo de qualquer coisa que faça sombra, o barulho do que restou nos canos de calhas podres derramando agua pesada dentro da cisterna trincada, trincada como a familia...e o som inconfundivel da vida esbravejando dentro de mim...rumino uma angustia infindavel e lamento, pois segunda-feira se agiganta diante de meus olhos e me incomoda passar dias longe desse inferno, desse lugar pesado, com teto baixo e opaco e com nuvens de cristais negros que respingam tristeza e pesar que tatuam em mim um nojo admissivel, comparado com o sofrimento que me proporcionam...


Seis da manhã. Semicerrados meu olhos despedem-se de ti, Taquara, até sexta...






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Segue no proximo post...

(erros de grafia corrigirei no decorrer da semana, exceto acentos..hehe)


Um comentário:

Aimée Souto. disse...

confesso que tive que ler algumas vezes até captar tudo :S
absorver sei lá...
intenso, eu achei.
mas espero ansiosa o próximo. e o próximo.
parece que essa história não tem um fim.
'big macs imaginários'. ahuishauisha :P

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